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Comemoração do Centenário da IPA

Conferência proferida pelo Dr. Paulo Marchon, membro titular da SBPRJ, SPR
e GEPFOR, no dia 26 de março de 2010, quando o GEPFOR comemorou os Cem
Anos da IPA (International Psychoanalytical Association) a entidade fundada por
Freud.

Há 100 anos atrás, como era Viena?
Era a Viena do Imperador Francisco José, inconstante marido da Sissi, a bela
que não se acostumava ao rigoroso protocolo da Corte Austríaca e dele fugia em
viagens constantes, deixando de cuidar do marido, da Corte e de três filhos, até ser
assassinada por um anarquista italiano. Desta forma trágica se acabou o que foi
considerado o casamento do século XIX, naquela que foi considerada a mais bela
festa de todos os tempos, festa que durou uma semana – festa que só Viena era capaz
de realizar, com seus 700 mil habitantes e milhares de nobres vindos de todas as
partes do mundo, além da própria nobreza vienense e magnífica burguesia
enriquecida da Áustria, ávida de cultura e saber. Três filmes com a bela Romy
Schneider eternizaram a versão romântica deste drama humano. Bem antes de
terminar o século o Imperador Francisco José iniciara a transformação completa de
Viena, construindo um magnificente e vasto anel viário em forma de ferradura,
a Ringstrasse, além de dois magníficos museus, bem como o Parlamento e a
Prefeitura neogótica. O romancista Hermann Broch diria anos depois: “o alegre
apocalípse em torno de 1880” (Gay p. 34). Os ricos vienenses completaram a obra do
Imperador e edificaram seus palácios particulares. Mas os judeus continuavam a vir
para Viena, pois se Lueger, o antissemita clássico, era o prefeito que tinha o racismo
como programa de governo, nos outros lugares, Londres e Paris, a situaçào era pior
ainda, como descreve, em detalhes, Peter Gay. (p. 34)

Paris era um pouco maior do que Viena, mas a capital austríaca teria algo a
mais: uma alegria contagiante, a música, o amor ao prazer, o requinte da Corte,
mantidos pelo Imperador e sua mãe dominadora. Viena possuia ainda os bosques, os
Bosques de Viena imortalizados pela música extraordinária de Strauss, o gosto pelas
festividades e pela pompa.
Em 1902, Rodin foi convidado, pelo grande artista plástico Klimt a uma festa
ao ar livre no Práter, o belíssimo parque de Viena. Alguém se senta ao piano e toca
Schubert. Rodin, parisiense vivido, percebeu o clima e teve que confessar: “Klimt:
nunca experimentei tais sensações… seu afresco trágico e ao mesmo tempo bemaventurado…
esta exposição inesquecível… e também estas mulheres, esta música e, à
nossa volta, em nós mesmos esta alegre ingenuidade… Estou conquistado!” (Giroud,
p.13). Arthur Koestler iria falar em uma “fugitiva centelha erótica”. Será que eles
desejavam dar uma pitada de razão a Pierre Janet, o inimigo de Freud, que afirmava
ser a psicanálise uma pseudo cura para uma transbordante sexualidade
exclusivamente vienense?
Era uma Viena maravilhosa, a Viena dos Sonhos, da Interpretação dos
sonhos de Freud, Viena Fin-de-Siècle, Viena da Belle Époque, com o Danúbio Azul de
Johann Strauss e Franz Lehar, quando o Danúbio ainda era azul, das valsas de todos
nós, das óperas, das operetas, das Viúvas-Alegres. Viena, cidade onde os maridos, ao morrer,
temiam que suas viúvas não esperassem os primeiros sinais de enrijecimento muscular e já se
transformassem em Viúvas Alegres. Italo Svevo, de Trieste, em Consciência de Zeno, bem
depois irá pedir piedade às mulheres para que aguardem algum sinal de deterioração física
após o sepultamento para que, aí sim, possam cair nos braços de um outro qualquer, conforme
diria Lupiscínio Rodrigues. Com a moda atual da incineração dos cadáveres, Ricardo III não
precisaria ter nenhum prurido para se lançar à conquista da Viúva cujo marido assassinara.
Afinal ele, o marido, havia voltado a ser pó. Mas vamos deixar Shakespeare e voltemos à
Viena das Sinfonias de Gustav Mahler, do charme da amada de Mahler, e de outros
passantes, enfeitiçados ou rejeitados pela bela Alma Mahler, musa inspiradora e
amada do artista plástico, Kokoschka. Musa também daquele que iria revolucionar
o mundo do design e da Arquitetura, o criador da Bauhaus, Walter Gropius e
também do renomado escritor Franz Werfel, o autor da Canção de Bernardette. Ela
era uma musa, uma deusa, uma Vênus que transformava gênios em deuses e, por
ordem de Mahler, não poderia compor nenhuma música, JAMAIS! Mas,
extraordinário, iria submeter-se a Mahler. A vingança de Alma eram os amores e mais
amores, traições e mais traições… A Viena de Robert Musil, o extraordinário escritor
do Homem sem Qualidades e também de Elias Canetti, gênio literário tão criticado por
afinal ter sido um colaboracionista. Viena do outro lado, o lado dos irmãos Artur e
Stefan Zweig. Quanto a Stefan Zweig que viria morar em Petrópolis, onde apesar de
escrever o livro Brasil, país do futuro, não via futuro para ele e sua amada no mundo que
Hitler havia destruído. Hitler aniquilara o seu mundo maravilhoso da Belle-Époque, da
segurança e da Beleza, da harmonia romântica que lhe permitia enriquecer o universo das
letras com suas criações geniais, suas frases suaves, maravilhosas, suas histórias
candentes e maravilhosamente urdidas. Ele não via nenhuma solução a não ser dar a
vitória final a um Hitler interno que o perseguia implacavelmente. Ele, um gênio, não
admitia para si mesmo a chance de viver, de, afinal, conseguir uma vitória e uma
construção de um mundo melhor. A vitória que estava nos sendo dada pelos britânicos,
pelos russos, americanos e todos os resistentes do mundo que preferiam matar a se matar
ou se deixar matar pela barbárie. Diante de Hitler até mesmo o pacifista Einstein
estimulou o alistamento militar. Vocês já imaginaram como seria o mundo sob domínio
nazista? Viena de Arthur Schnitzler, de Hofmannsthal, de Klimt, de Theodor Herzl, um
judeu traumatizado com o tenebroso caso Dr eyfus, que o mobilizou a
idealizar um Estado Judeu. Viena da música atonal de Schoenberg, Viena
que iria tornar-se campo de luta entre a filosofia de Karl Popper e a Lógica
deWittgenstein. Viena, celebrada no mundo inteiro como sendo a terra dos filósofos
do Círculo de Viena. Viena do arquiteto Otto Wagner, do urbanista Camillo Sitte.
Viena, em cujos Cafés e nos salões das ricas e cultas damas, contracenavam escritores,
compositores, artistas plásticos, políticos, estrangeiros importantes, exilados, num
cadinho de cultura e de generosa convivência. Lev Davidovitch Bronstein, também
conhecido como Trotsky, o criador da “Revolução Permanente”, colaborador de Lenin
em 1917, na Revolução Russa, frequentava o famoso Café Central, onde jogava
xadrez. Ele foi escalado por Stalin para morrer desde 1929. Ao final, foi assassinado a
machadadas no México. Viena de Tomás Masaryk, primeiro presidente da República
Tcheca. Viena de Franz Werfel, que na época era escritor equiparado a Thomas Mann.
Ele, ao ver sua mulher, Alma, já com 53 anos, enfeitiçando o teólogo padre Johannes
Hollensteiner, de 37 anos, promissor futuro cardeal de Viena, disse simplesmente: “É
a mais recente loucura de Alma…” Mas não foi a última o que o levaria a dizer: “É
uma das poucas feiticeiras vivas…” Alma sobreviveu a todos, muito antes de sua
morte, aos 87 anos, seria mordazmente cognominada “a viúva das quatro artes”. Ela
não se casara com o quase futuro cardeal, senão teria ampliado o seu número de artes.
O padre Johannes foi devidamente abadonandonado por Alma, sem batina. Realmente
Viena era a cidade onde a situação poderia ser desesperadora, mas não era grave… Ou,
numa outra versão, em que o comandante de um regimento na frente ocidental enviaria
o antológico telegrama: “A situação é sem esperança, mas não é desesperadora”. Eles
sabiam viver até o fim e não se desesperavam e quando havia a ameaça de um
desespero, ora, não era grave. Ficavam neste passo de dança volúvel, envolvente, em
que a autenticidade também não era uma flor que vicejasse e a ilusão, esta sim, era
uma fonte de alegria e de vida.
Então surge um homem que não frequentava os cafés e noitadas vienenses,
que convivia em um pequeno círculo médico, que quase descobrira o efeito
anestésico local da cocaína e que afirmava odiar Viena e amar a verdade – o nosso
Sigmund Freud.
Não podemos deixar de comparar, guardando as devidas proporções, Atenas e
Viena. O velho Freud ficaria bem no lugar de Sócrates. Imaginamos que o criador da
Psicanálise pode ser colocado junto de Sócrates, o indiscutível criador da Filosofia
Ocidental. Sócrates pariu a maiêutica e o Conhece-te a ti mesmo, enquanto Freud deu
nascimento à Psicanálise e à associação livre de idéias como meio de acesso ao
Inconsciente. Ambos utilizando a Palavra e o Diálogo com o Outro como meio de
parturição das idéias desconhecidas e nascentes numa tentativa de nos conhecermos.
Houve momentos em que Freud se apropriou da peripatética platônica e,
andando pelas ruas de Viena, analisou os pioneiros como Eitington e outros. É célebr e
a análise peripatética que Freud realizou com Mahler. Não foi em Viena, mas sim em
Leyde, na Holanda, quando Freud lá estava de férias. Foram 4 horas. Lá pelas tantas
Freud estranhou como Mahler, nas circunstâncias de sua relação com a mãe, que se
chamava Maria, viera a se casar com uma mulher de nome tão diferente, Alma. Para
espanto dos dois, Mahler respondeu: “Mas ela se chama Maria Alma!” Nesta hora a
gente tem de dizer em relação a Freud: “Bingo! Fecha o pano!”
Em Viena os intelectuais se conheciam, diferentemente das outras capitais
européias, onde se desconheciam. Havia muitos motivos para isto. Entre eles, os cafés.
A meu ver isto se devia também a um homem terrível, odiado por todos, uma víbora:
Karl Kraus, o criador, redator, repórter do jornal Die Fackel, em português,A Tocha.
Ele não perdoava ninguém: Freud, a Psicanálise, os escritores que enalteciam o
deflagar da guerra em 1914, os artistas, os ricos, os pobres, a burguesia, a realeza.
Todos estavam expostos à navalha de sua pena inapelável. Todos tinham que lê-lo até
para saber que podre de sua vida ia chegar aos narizes de todos de Viena. Isto porque
tudo o que chegava a seus ouvidos ele publicava. Parece que os vienenses pensavam
assim: “Se um dia alguém contar aquele meu problema eu sei que o Karl Kraus não vai
me perdoar. Vai botar no jornal. Vamos gozar a desgraça alheia enquanto não chega
minha hora. Vou contar para o Karl aquela história verdadeira da mulher do meu
amigo”.
Mas a oposição à Psicanálise era grande. Gay 1989 (p. 410) nos lembra:
“Entretanto o que mais impressionou ao futuro filósofo Karl Popper foi a
explícita asserção de Einstein, de que consideraria insustentável a sua teoria da
relatividade caso ela viesse a falhar em certas provas. Einstein escreveu, por exemplo,
que, se os desvios das linhas espectrais para o vermelho devido ao potencial
gravitacional não ocorrer, a teoria geral da relatividade será insustentável”. E Popper
complementou: “Ali estava uma atitude completamente diversa da atitude dogmática
de Marx, Freud, Adler e mesmo de alguns seus sucessores… Cheguei assim, em fins de
1919, à conclusão de que a atitude científica era uma atitude crítica, em que não
importavam as verificações, mas as provas cruciais – provas que poderiam refutar a
teoria em exame, conquanto jamais pudessem estabelecê-la ou prová-la” (p.44). E
Popper lançou-se no mundo!
Em 1921, o Eclipse do Sol, daria à cidade cearense de Sobral um lugar especial
não apenas na História da Astronomia e da Física, mas também na Epistemologia da
Ciência transformando-se em um esteio para a mente extraordinária de Einstein e o
futuro Sir Karl Popper. Neste eclipse verificou-se que os raios de uma estrela foram
desviados pela força gravitacional do Sol, algo que seria impossível de acontecer de
acordo com os conceitos newtonianos clássicos.
Podemos refutar Popper dizendo que Freud modificou sua teoria diversas vezes
em aspectos essenciais da mesma. A Psicanálise desenvolveu-se através de caminhos
que diferentes teóricos analistas têm percorrido com maior ou menor sucesso. Se tal
ocorre é porque nem tudo é explicado. Sabemos que uma imensidade de problemas
humanos não está explicada nem compreendida, mas, com a Psicanálise, alguma
ampliação do conhecimnto foi conseguida e continua sendo expandida.
“Popper, por exemplo – tinha apenas dezessete anos –, achava que havia
refutado definitivamente a Psicanálise e o marxismo: todos esses sistemas explicavam
demais. As formulações de Freud, Marx (e também de Darwin) eram tão imprecisas
que qulquer acontecimento, qualquer comportamento, qualquer fato que fosse
poderiam apenas confirmá-los. Provando absolutamente tudo, argumentou Popper, eles
não provavam absolutamente nada. E Popper era apenas o mais sofisticado entre
muitos especialistas do momento. Num tal clima de opinião, com tanta coisa em jogo,
o avanço tortuoso da Psicanálise não deve ter surpreendido Freud.” Lembremos que
Popper era admirador de Darwin, mas a teoria da Evolução das espécies também
“explicava tudo”. Sabe-se hoje que os conco bilhões de anos da existência da terra não
explicam a perfeição da textura de um olho, de um rim humano, órgãos extraordinários
dos seres humanos, sem contar o cérebro…
Peirce “enunciou de um modo rudimentar—a tese da assimetria entre a
verificação e a falsificação: seria necessária uma infinidade de experiências para
confirmar uma teoria, mas, bastaria uma única para refutá-la” (p. 141).
A música, a dança e os cafés impregnavam a cidade. Nos cafés havia a riqueza,
o cuidado, a alegria contagiante. Stefan Zweig dizia que a primeira coisa que se lia nos
jornais era a secção de espetáculos. Pobres de nós em que o nosso espetáculo é o
assalto, a inundação, a corrupção, as mortes por acidentes, as bandas e os político
inomináveis. Que espetáculos!
Viena não era apenas a cidade da psicanálise nascente, mas também do novo
urbanismo, da música atonal, das artes plásticas que caminhavam do “déco” ao
expressionismo. Era uma mola propulsora do belo e do moderno.
Os homens mais ricos da cidade eram profundamente ligados ao processo cultural e
de vanguarda. O mecenato era franco e decidido. O Velho Karl Witgenstein, pai do nosso
filósofo, era o mais rico de todos. Ele era mais rico do que os Krupp seriam na Alemanha
de Hitler. Apoiou inteiramente o movimento da Secessão que eclodiu na Viena esfuziante e
sacudiu aquela época e que, quanto mais tempo se passa mais e mais é valorizado. Era uma
luta contra o academicismo ainda imperante.
Klimt, 20 anos mais velho do que Alma, futura Mahler, frequentava o lar dos Moll,
padrasto da futura “Viúva das Quatro Artes”, como ficou conhecida por haver arrasado os
corações dos maiores gênios da época, matando-os de frustração amorosa. Era uma
Marylin Monroe de então, com algumas diferenças. Não se interessava por presidentes,
mas sim por gênios. Aos 17 anos sabia grego, devorava Nietsche, sabia de cor toda a obra
de Wagner, compunha maravilhosos lieds, mas obedeceu à ordem de Mahler de jamais
compor nada. Uma Marylin que aceitou não ser atriz. Que coisa atroz… Klimt foi eleito
presidente, Moll o organizador do movimento que tratava de “romper com o academicismo
vienense dominado ainda por um hábil artífice, Makart, e revolucionar pura e
simplesmente o conjunto das artes plásticas e decorativas”. (p.25). Mobilizaram mais
quarenta artistas plásticos em luta para reformular a Arte e fazer um novo Renascimento.
Alma Mahler, aos 15 anos, estava no centro amoroso de todos. Moll era seu padrasto, e
Klimt, 35 anos, seu primeiro enamorado. Onde Alma ia, Klimt ia atrás, mesmo de cidade
em cidade, até a mãe de Alma ler no diário íntimo da filha, a descrição de um certo beijo.
Solução: Klimt não poderia mais frequentar a casa deles e foi fazer a extraordinária
revolução nas Artes, a Secessão: um sucessão! Embora tristes com o fato de Klimt não
poder mais visitar sua casa, Alma e seu apaixonado amado aceitaram. Moll era apreciado e
valioso por sua capacidade organizativa. Mas, em Veneza, a promessa ao padrasto não
pôde ser cumprida e, a duras penas, Alma manteve apenas a virgindade, aquele “bem tão
precário…”.(p.26). Moll, o organizador do movimento da Secessão, o padrasto, se impôs e
acabou com a farra, por pouco tempo…Klimt precisava do senso de organização de Moll e,
assim… obedeceu. Klimt passou a satisfazer-se com uma boneca que era imitação perfeita
de Alma. Só lhe faltava alma à Alma. Mas, Alma, teria alma?
Os três afrescos que saíram da mente de Klimt para ornar os salões da
Universidade, cujos temas eram Medicina, Filosofia e Jurisprudência chocaram a todos.
Eram mulheres nuas, esguias, expressando a essência da feminilidade, de belezas nada
esculturais, mas criaram um tumulto tal que Klimt retomou-as e não recebeu o dinheiro
que o Estado lhe devia. O Ministro da Educação impôs: ele, Klimt, tinha que receber o
dinheiro. E, todo resolvido, pois afinal o Ministro portelianamente era Sua Excelência, o
Ministro, e não apenas estava Ministro e não seria um reles artista plástico quem iria
desobedecer às ordens ministeriais. Mandou um caminhão buscar os quadros. Klimt pegou
uma espingarda, carregou-a e quando os motoristas chegaram, ele os mandou desaparecer
de sua frente com caminhão e tudo e que transmitissem suas palavras ao ministro e que não
voltassem jamais. Nunca mais voltaram. O Renascimento de Viena iria terminar em Morte
se voltassem! Tempos depois, estes afrescos foram parar em um palácio particular,
incendiado na época dos nazistas. Mais um crime na conta do pintor de paredes chamado
Adolph!
Antes e depois disto, em seu atelier, Klimt vivia cercado de mulheres nuas as quais
ia desenhando de acordo com a perspectiva visual e emocional do momento.
O pai de Wittgenstein sabia ser tirano. Dos seus quatro filhos homens, todos de
grande sensibilidade artística, virtuoses do piano, fato que os levava a varar as madrugadas
mergulhados no prazer da música. Três deles eram homossexuais e se suicidaram,
enquanto que o outro Wittgenstein, seria o gênio que até hoje irradia e ilumina o saber
humano. O sofrido Ludwig Wittgenstein viveu acalentando a ideia e quase o ato de
suicidar-se, tentava agarrar-se nos amores homossexuais. Com a morte do pai herdou uma
considerável fortuna. Passou a reparti-la a vagabundos desconhecidos e poetas. Rilke teria
recebido alguma quantia de Wittgenstein até que a irmã do filósofo tomasse providências.
Na guerra de 1914, poderia ser oficial, mas resolveu ser soldado. Destacou-se em tudo o
que se intrometeu. Recebeu medalhas. Onde ia criava coisas extraordinárias. Sócrates
também tornou-se herói nas batalhas de Atenas, desprezava os bens materiais e criou a
Filosofia sem nada escrever. Wittgenstein tinha o seu Tractatus na mochila de enfermeiro
da Primeira Guerra Mundial e a lógica e as discussões com Bertrand Russel na mente.
Desejava acabar com a Filosofia, reduzir tudo à Lógica e aniquilar a metafísica, a ética, a
estética. Depois de muitos anos iria travar uma batalha com Karl Popper, o vienense sem
atrativos especiais, que não era um Deus como Wittgenstein o era para seus admiradores.
Mas, quando Popper começava a falar, a argumentação impressionava. Popper vinha
criticando os escritos de Wittgenstein há anos e anos. Foi em Londres, com a presença de
Russell, pela primeira vez juntos, presentes os maiores filósofos de então que Popper iria
defender a existência de problemas filosóficos reais e assim defender a existência da
Filosofia. Citou alguns exemplos de problemas filosóficos, Wittgenstein rejeitou todos eles
de modo definitivo, ao mesmo tempo em que, na acanhada sala em que se daria a esperada
reunião e discussão entre o querido Ludwig contra o mestre Popper, Wittgenstein
“brincava nervosamente com o atiçador da lareira” da sala, cheia de importantes filósofos e
alunos que iriam ver o esperado debate. Ao abordarem a ética Wittgenstein irritado reptou
Popper a fornecer um exemplo de uma regra moral. Popper disse-lhe: “Não ameaçar
palestrantes com atiçadores”. Para que Popper foi dizer isto, a seu ver brincando? Ludwig
lançou o atiçador no chão, saiu de imediato da sala, batendo a porta. Foram doze ou quinze
minutos apenas da discussão filosófica que deveria ter sido… Milhares de páginas e
também um livro extraordinário relatam este episódio de Guerra Filosófica! Abandonemos
estes dois gênios:
“Nos anos 1880, esses grupos [camponeses, artesãos e operários urbanos, e os
povos eslavos] formaram partidos de massa para enfrentar a hegemonia liberal [composta
de]: social-cristãos e pangermânicos anti-semitas, socialistas e nacionalistas eslavos. Seu
êxito foi rápido. Em 1895, o bastiào do liberalismo, a própria cidade de Viena foi
engolfado por um vagalhão social-cristão. O Imperador Francisco José, com o apoio da
hierarquia católica, recusou-se a ratificar a eleição de Karl Lueger, o prefeito católico
anti-semita. Sigmund Freud, o liberal, fumou um charuto para comemorar o gesto do
Imperador, salvador autocrático dos judeus. Dois anos depois, não se pôde mais deter o
vagalhão. O Imperador, curvando-se à vontade do eleitorado, ratificou Lueger como
prefeito de Viena. (Schorske, 27).
Daí em diante Viena e Áustria se tornaram rainhas do clericalismo e antisemitismo.
É bem verdade que, muitos anos depois, Stefan Zweig quando exprimia sua
“consternação pelas notícias a respeito das perseguições aos judeus… [ouviu]: Vocês
judeus alemães e austríacos, sofrem mais porque há séculos não conhecem perseguições.
Nós que viemos da Rússia, Polônia, Romênia, sabemos o que sãopogrons, massacres,
terror” (Dines, p.474). É um campionato masoquista: saber quem sofre mais. Triste
condição humana, o que nos faz lembrar André Malraux, em que seres humanos vivos
eram lançados nas fornalhas a fim de alimentar as locomotivas, como se fossem carvão.
Muitos e muitos anos após o prêmio Nobel de Medicina Erik Kandel, vienense, casado
em primeiras núpcias com Anna Kris, filha de grandes amigos de Freud e analista das
primeiras levas, Ernest e Marianne Kris, lançara-se no mundo da Psicanálise e da
Ciência. Ficou com o estudo da memória e conquistou o Nobel, em 1999. Escreveu Em
busca da memória, uma obra extraordinária, onde trechos autobiográficos e históricos se
entrelaçam com suas pesquisas:
Hitler tinha presumido que os austríacos iriam se opor à anexação de
seu país pela Alemanha e fossem peleitear que a Àustria se tornasse um
protetorado alemão relativamente independente. Mas a maneira extraordinária
como foi recebido, mesmo por aqueles que, 48 horas antes, se opunham a ele,
convemceu-o que a Àustria aceitaria prontamente – e, na verdade, receberia
de bom grado – a anexação. Parecia que todo mundo, dos comerciantes
modestos aos mais elevados membros da comunidadde acadêmica, agora
acolhia Hitler de braços abertos. O cardeal Theodor Innitzer, onfluente
arcebispo de Viena, outrora defensor solidário da comunidade judaica,
ordenou que todas as igrejas católicas de Viena hasteassem a bandeira nazista
e fizessem soar seus sinos em homenagem à chegada de Hitler. Ao
cumprimentá-lo pessoalmente, o cardeal empenhou sua própria lealdade e
também a de todos os austríacos católicos, a maioria da população. Prometeu
que os católicos da Àustria se tornariam ‘os verdadeiros filhos do grande
Reich, para cujos braços eles haviam retornado neste dia importantíssimo’. O
único pedido do arcebispo foi o de que as liberdades da igreja fossem
respeitadas e seu papel na educação dos jovens garantido. Naquela noite e
durante os dias que se seguiram, o caos se instalou. Inspirados pelos
austríacos nazistas e gritando “Fora com os judeus! Heil Hitler! Destruam os
judeus!”, multidões de vienenses, adultos e jovens irromperam num frenesi
nacionalista, espancasndo judeus e destruindo suas propriedades. Judeus
foram humilhados e obrigados a ficar de joelhos para esfregar as calçadas,
eliminando todos os vestígios dos grafites políticos contrários à anexação.
Meu pai foi forçado a usar uma escova de dentes para limpar Viena do último
sopro da independência austríaca – a palavra ‘sim ‘, rabiscadas pelos patriotas
vienenses exortando os cidadãos a votar pela liberdade da Àustria e a se opor
à anexação. Outros foram obrigados a carregar baldes de tinta e a marcar os
estabelecimentos comerciais que pertenciam a judeus com a estrela de David
ou com a palavra Jude. Os comentaristas estrangeiros, desde muito habituados
às táticas nazistas na Alemanha ficaram mudos de espanto com a brutalidade
dos austríacos. (…)
No dia seguinte à chegada de Hitler, todos os meus colegas de classe—
exceto um – uma menina, a única outra criança judia que estudava na minha
classe –, me evitaram. No parque onde costumava brincar fui insultado,
humilhado e provocado. (…) Esssa hostilidade dirigida aos judeus, da qual o
tratamento que recebi não passa de um tratamento ameno, culminou com os
horrores da Noite dos Cristais (Kandel, pp 28-32).
Nesta célebre Noite dos Cristais os nazistas destruiram as vitrines e os pertences
das casas dos judeus, expulsaram-nos de seus lares, agrediram e mataram livremente.
Faltando quatro anos para terminar o século, Freud perdeu o pai. Estava com 40
anos. Começou sua autoanálise, que ele vai considerar impossível de ser realizada, pois
que, se isto fosse possível, não existiria a doença “neurótica” e, consequentemente,
também não existiriam psicanalistas. Em 1900 publicou aInterpretação dos sonhos.
Wilhelm Steckel sugeriu, em 1901, reunirem-se com alguns amigos para discutirem os
temas calientes de suas preocupações sobre a emocionalidade. Eram cinco médicos. Os
dois já citados, Max Kahane, Reitler e Victor Adler. Eles não sabiam, mas estavam
criando o que poucos anos depois iriam denominar a Sociedade Psicológica das Quartasfeiras.
Também não sabiam que, deste gérmen, iria nascer a formidável IPA, com seus
mais de 12.000 membros associados e, cerca de 4.500 candidatos a se tornartem
analistas. Paul Federn e o pai do pequeno Hans, Max Graf, ficariam na história da
Psicanálise desde estes primórdios. Steckel também ficou. Seus livros sobre “Impotência
masculina”, Escuta Zé-ninguém ainda são encontrados, embora muito criticados pela
grande maioria dos psicanalistas, há muitos e muitos anos. Ele é mais conhecido porque
sempre, nas reuniões na casa de Freud, acrescentava um caso dele, “exatamente” com
aquele mesmo problema que estava sendo discutido: era o “paciente das quartas-feiras”
de Stekel, como jocosamente os colegas comentavam. Em 1906, quando Freud estava
com 50 anos, eram 17 membros. Em 1908, aos poucos, foram chegando Ferenczi, o
grande amigo, Karl Abraham, de Berlim, Jones, Paul Federn e Otto Rank, Eitington,
Brill, Binswanger e, entre todos eles, o futuro Príncipe Herdeiro, Gustav Jung.
Na primeira reunião dos discípulos de Freud, em 1908, em Salsburgo, estavam
presentes 42 participantes vindos de seis países: Estados Unidos, Àustria, Grã-Bretanha,
Alemanha, Hungria e Suiça. Freud apresentou, sem consultar uma nota sequer, durante 4
horas, o caso do “Homem dos ratos”. Dois anos depois, em 1910, em Nuremberg, eles
fundam a IPA elegendo Jung como seu presidente. Freud vivia sendo acusado, pelo meio
psiquiátrico de então, de haver criado uma pseudo-ciencia de aplicação exclusivamente
judia. O preconceito anti-judeu graçava em Viena. Hitler passava da adolescência. O
irmão de Dora, o célebre caso clínico de Freud, Otto Bauer, que se tornou um teórico do
Marxismo, tinha sido ministro das Relações Exteriores da Áustria. Ele envidou todos os
esforços para que Hitler invadisse e anexasse a Áustria, seu próprio país. Podemos dizer
que Hitler, nascido na Áustria invadiu e anexou seu país natal para a Alemanha enquanto
que o irmão de Dora e o povo austríaco deixou-se invadir. O povo votou a favor da
anexação. Otto Bauer pensava que a união do proletariado da Àustria com o operariado
da Alemanha, levaria a que a massa dos trabalhadores dos dois países unidos esmagasse
Hitler. Os trabalhadores unidos foram vencidos. Neste cadinho explosivo iria estourar a
Primeira Guerra Mundial, em 1914.
Anos antes da Primeira Grande Guerra Carl Gustav Jung, um teutônico típico,
afinal um não judeu talentoso, era a esperança de resgatar a Psicanálise desta visão
estreita, de uma suposta ciência judia, recuperando assim a universalidade do nosso
saber. Mas os adeptos vienenses que haviam sofrido a execração pública, junto com
Freud, desde o princípio, queriam também um lugar ao sol no estrelato psicanalítico. Por
este motivo, em virtude da não aceitação, por parte de Jung, da importância radical da
sexualidade, dentro da concepção de Freud, o conflito entre os dois foi num crescendo de
tal forma que a calorosa aceitação mútua deu lugar a uma separação dolorosa. Também
em 1914, Freud iria publicar a História do Movimento Psicanalítico, em que narra a luta
contra Adler e Jung. Era a primeira guerra mundial da Psicanálise. Nós estamos a 100
anos de distância e só temos a declarar nossa admiração por estes bravos que povoaram o
mundo com suas idéias, seus conflitos, suas inteligências e seus saberes. Hoje é dia de
celebração da aniversariante, a IPA. Todos eles, gregos e troianos, foram fundamentais
na criação e na Criatividade da aniversariante. Talvez uma formulação típica cearense
fosse dizer que ela, a aniversariante, carece de um Homero.
Em homenagem ao sexo frágil vamos lembrar-nos da primeira mulher na
Sociedade Psicológica das Quartas-feiras, reunião dos colegas que tiraram Freud do
longo e não tão esplêndido isolamento: Margarethe Hilferding, uma marxista, que tomou
o partido de Adler na disputa deste com Freud. Foi exterminada, como outros seis
milhões de judeus em campos de concentração. Não podíamos esquecer-nos de Lou
Andrea Salomé, mulher e psicanalista apaixonante e apaixonada, um nome que envolve
Nietzsche, Rilke, Paul Rée, Carl Andreas e outros mais. Arrebatava as inteligências com
quem se envolvia pelo poder de sua mente extraordinária, pela beleza marcante e
personalidade ímpar.
Depois de Jung, em sucessivas etapas foram sendo eleitos presidentes: Abraham,
Ferenczi, Jones e, em 1925, Eitington e, com ele a IPA passou a dirigir e centralizar a
formação psicanalitica, baseada no famoso tripé: análise pessoal, supervisão e curso
teórico. Como era de se esperar houve reações a este modelo, mormente por estabelecer
análises prolongadas, com sessões com tempo determinado de 45 a 50 minutos, quatro a
cinco vezes por semana, tendo como Regra Fundamental a associação livre de idéias.
Os psicanalistas europeus que fugiam do nazismo entraram, enquanto foi possível
na Associação Psicanalítica Americana. Constituiam um grupo muito numeroso, de tal
maneira que puderam se impor à IPA e, embora ficassem na associaçào que Freud
fundara, tinham o direito de só permitir que médicos fossem analistas e dirigiam
integralmente a formação dos seus candidatos. A IPA e Freud eram francamente a favor
de que a Psicanálise não ficasse restrita aos médicos. Em 1985, os psicólogos americanos
conseguiram impor-se ameaçando com processos judiciais à IPA e à Associação
Psicanalítica Americana, de tal sorte, que a mesa foi virada e a psicologia enriqueceu a
Psicanálise, mergulhando por inteiro na IPA. As Sociedades brasileiras já haviam aberto
suas portas, bem antes, ao toque da Psicologia.
Em 1927, o Brasil, através de Durval Marcondes, de São Paulo, solicita inscrição
na IPA, fundando a Sociedade Brasileira de Psicanálise. Porto Carrero, do Rio, escrev a
Freud, filia-se, mas as dificuldades foram muitas e só em 1936 Adelheid Koch, a
primeira analista-didata a pisar no solo brasileiro realiza os sonhos de Durval Marcondes.
Este feito estimulou o Rio a procurar pelo mundo, através de Ernest Jones, um analista
didata. Até Paula Heiman, Marie Langer e outras foram cantadas antes da vinda de Mark
Burke e Kemper. Brasileiros vão se formar analistas na Argentina, dançando Freud ao
som do bandoneón. Em 1951 a Sociedade de São Paulo é aceita pela IPA. Em 1955 a
IPA aceita a Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro e, em 1959, foi criada a Sociedade
Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Estas duas com nomes tão parecidos a fim de
facilitar, receberam cognomes: a primeira tornou-se Rio I e a segunda, muito
naturalmente, Rio II. Estas duas sociedades cariocas patrocinaram a Sociedade
Psicanalítica do Recife, que começou em 1975, como nós de Fortaleza, um simples
Núcleo Psicanalítico, com José Lins e Lenice Sales. A Lenice é a grande dama da
Psicanálise nordestina. Vamos sintetizar os feitos de colegas que mereceriam nosso mais
entusiástico aplauso: Sônia Lobo monta uma ponte-aérea Fortaleza-Recife ida e volta
com Zé Lins. É a primeira psicanalista da IPA a pisar solo cearense e a grande dama da
Psicanálise em nosssa terra. Maria José de Andrade Souza procurou análise em Sào
Paulo, onde se formou e, felizmente, voltou; Valton vai em demanda de mais luzes a
Porto-Alegre; Galba vai de Fusca ou de Gordini, aquele que desmanchava como Leite
Glória, com a família, durante anos para Buenos Aires ida e volta; Barbosa, Socorro e
Rosane preferem a terra da garoa, em seus diferentes matizes, muito antes do dilúvio
recente e das guerras de gangues recentes. Roberto, após longa passagem no Rio, ainda
encontra fôlego para ir a Buenos Aires.
Há seis anos houve o primeiro Congresso da IPA, no Brasil, que foi um grande
sucesso. Há quatro anos um brasileiro, Cláudio Eizirik foi eleito Presidente da IPA.
Testemunhei e participei, em Chicago, em 30 de Julho de 2009, no ano passado, a
entrada do GEPFOR na IPA como Grupo de Estudos Psicanalíticos de Fortaleza. É hora
de cantar o nosso Hino:–Fortaleeeeeeza!!!! – com fervor e valorizarmos o esforço de
tantos colegas, os citados e os não citados, colegas nossos que nos divãs nos formam
melhores analistas. Agradecemos à IPA que conseguiu manter este núcleo central de uma
Psicanálise em alto estilo, de uma formação constante, contínua e continuada. O que
seríamos nós sem ela? Talvez fôssemos um bando, sem nos conhecermos. Hoje somos
um grupo, um berço de criatividade sob o amparo, o calor, o frescor dos róseos dedos da
Aurora do conhecimento do Inconsciente humano, vislumbrado pelo genial Sigmund
Freud.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Dines A. (2004) Morte no Paraíso A tragédia de Stefan Sweig. Riode janeiro:
Rocco.
Freud S (1914) A história do movimento psicanalítico
Gay P (1989) Freud, uma vida para o nosso tempo. S. Paulo: Cia. das Letras.
Giroud F (1989) Alma Mahler ou a Arte de ser Amada. Rio: Rocco
Kandel E. (2009) Em busca da memória. São Paulo: Cia. das Letras.
Schorske C.(1988) Viena Fin-de Siècle. São Paulo: Editora Schwarcz
Popper K (1987) Autobiografia Intelectual. Rio: Editora Cultrix
______ (1989) Karl Popper et la Science d’aujoud’hui. Paris: Aubier, Coloque
de Cerisy, p. 141.
Comemoração do Centenário da IPA
Nota:
Conferência proferida pelo Dr. Paulo Marchon, membro titular da SBPRJ, SPR
e GEPFOR, no dia 26 de março de 2010, quando o GEPFOR comemorou os Cem
Anos da IPA (International Psychoanalytical Association) a entidade fundada por
Freud.
Há 100 anos atrás, como era Viena?
Era a Viena do Imperador Francisco José, inconstante marido da Sissi, a bela
que não se acostumava ao rigoroso protocolo da Corte Austríaca e dele fugia em
viagens constantes, deixando de cuidar do marido, da Corte e de três filhos, até ser
assassinada por um anarquista italiano. Desta forma trágica se acabou o que foi
considerado o casamento do século XIX, naquela que foi considerada a mais bela
festa de todos os tempos, festa que durou uma semana – festa que só Viena era capaz
de realizar, com seus 700 mil habitantes e milhares de nobres vindos de todas as
partes do mundo, além da própria nobreza vienense e magnífica burguesia
enriquecida da Áustria, ávida de cultura e saber. Três filmes com a bela Romy
Schneider eternizaram a versão romântica deste drama humano. Bem antes de
terminar o século o Imperador Francisco José iniciara a transformação completa de
Viena, construindo um magnificente e vasto anel viário em forma de ferradura,
a Ringstrasse, além de dois magníficos museus, bem como o Parlamento e a
Prefeitura neogótica. O romancista Hermann Broch diria anos depois: “o alegre
apocalípse em torno de 1880” (Gay p. 34). Os ricos vienenses completaram a obra do
Imperador e edificaram seus palácios particulares. Mas os judeus continuavam a vir
para Viena, pois se Lueger, o antissemita clássico, era o prefeito que tinha o racismo
como programa de governo, nos outros lugares, Londres e Paris, a situaçào era pior
ainda, como descreve, em detalhes, Peter Gay. (p. 34)
Paris era um pouco maior do que Viena, mas a capital austríaca teria algo a
mais: uma alegria contagiante, a música, o amor ao prazer, o requinte da Corte,
mantidos pelo Imperador e sua mãe dominadora. Viena possuia ainda os bosques, os
Bosques de Viena imortalizados pela música extraordinária de Strauss, o gosto pelas
festividades e pela pompa.
Em 1902, Rodin foi convidado, pelo grande artista plástico Klimt a uma festa
ao ar livre no Práter, o belíssimo parque de Viena. Alguém se senta ao piano e toca
Schubert. Rodin, parisiense vivido, percebeu o clima e teve que confessar: “Klimt:
nunca experimentei tais sensações… seu afresco trágico e ao mesmo tempo bemaventurado…
esta exposição inesquecível… e também estas mulheres, esta música e, à
nossa volta, em nós mesmos esta alegre ingenuidade… Estou conquistado!” (Giroud,
p.13). Arthur Koestler iria falar em uma “fugitiva centelha erótica”. Será que eles
desejavam dar uma pitada de razão a Pierre Janet, o inimigo de Freud, que afirmava
ser a psicanálise uma pseudo cura para uma transbordante sexualidade
exclusivamente vienense?
Era uma Viena maravilhosa, a Viena dos Sonhos, da Interpretação dos
sonhos de Freud, Viena Fin-de-Siècle, Viena da Belle Époque, com o Danúbio Azul de
Johann Strauss e Franz Lehar, quando o Danúbio ainda era azul, das valsas de todos
nós, das óperas, das operetas, das Viúvas-Alegres. Viena, cidade onde os maridos, ao morrer,
temiam que suas viúvas não esperassem os primeiros sinais de enrijecimento muscular e já se
transformassem em Viúvas Alegres. Italo Svevo, de Trieste, em Consciência de Zeno, bem
depois irá pedir piedade às mulheres para que aguardem algum sinal de deterioração física
após o sepultamento para que, aí sim, possam cair nos braços de um outro qualquer, conforme
diria Lupiscínio Rodrigues. Com a moda atual da incineração dos cadáveres, Ricardo III não
precisaria ter nenhum prurido para se lançar à conquista da Viúva cujo marido assassinara.
Afinal ele, o marido, havia voltado a ser pó. Mas vamos deixar Shakespeare e voltemos à
Viena das Sinfonias de Gustav Mahler, do charme da amada de Mahler, e de outros
passantes, enfeitiçados ou rejeitados pela bela Alma Mahler, musa inspiradora e
amada do artista plástico, Kokoschka. Musa também daquele que iria revolucionar
o mundo do design e da Arquitetura, o criador da Bauhaus, Walter Gropius e
também do renomado escritor Franz Werfel, o autor da Canção de Bernardette. Ela
era uma musa, uma deusa, uma Vênus que transformava gênios em deuses e, por
ordem de Mahler, não poderia compor nenhuma música, JAMAIS! Mas,
extraordinário, iria submeter-se a Mahler. A vingança de Alma eram os amores e mais
amores, traições e mais traições… A Viena de Robert Musil, o extraordinário escritor
do Homem sem Qualidades e também de Elias Canetti, gênio literário tão criticado por
afinal ter sido um colaboracionista. Viena do outro lado, o lado dos irmãos Artur e
Stefan Zweig. Quanto a Stefan Zweig que viria morar em Petrópolis, onde apesar de
escrever o livro Brasil, país do futuro, não via futuro para ele e sua amada no mundo que
Hitler havia destruído. Hitler aniquilara o seu mundo maravilhoso da Belle-Époque, da
segurança e da Beleza, da harmonia romântica que lhe permitia enriquecer o universo das
letras com suas criações geniais, suas frases suaves, maravilhosas, suas histórias
candentes e maravilhosamente urdidas. Ele não via nenhuma solução a não ser dar a
vitória final a um Hitler interno que o perseguia implacavelmente. Ele, um gênio, não
admitia para si mesmo a chance de viver, de, afinal, conseguir uma vitória e uma
construção de um mundo melhor. A vitória que estava nos sendo dada pelos britânicos,
pelos russos, americanos e todos os resistentes do mundo que preferiam matar a se matar
ou se deixar matar pela barbárie. Diante de Hitler até mesmo o pacifista Einstein
estimulou o alistamento militar. Vocês já imaginaram como seria o mundo sob domínio
nazista? Viena de Arthur Schnitzler, de Hofmannsthal, de Klimt, de Theodor Herzl, um
judeu traumatizado com o tenebroso caso Dreyfus, que o mobilizou a
idealizar um Estado Judeu. Viena da música atonal de Schoenberg, Viena
que iria tornar-se campo de luta entre a filosofia de Karl Popper e a Lógica
deWittgenstein. Viena, celebrada no mundo inteiro como sendo a terra dos filósofos
do Círculo de Viena. Viena do arquiteto Otto Wagner, do urbanista Camillo Sitte.
Viena, em cujos Cafés e nos salões das ricas e cultas damas, contracenavam escritores,
compositores, artistas plásticos, políticos, estrangeiros importantes, exilados, num
cadinho de cultura e de generosa convivência. Lev Davidovitch Bronstein, também
conhecido como Trotsky, o criador da “Revolução Permanente”, colaborador de Lenin
em 1917, na Revolução Russa, frequentava o famoso Café Central, onde jogava
xadrez. Ele foi escalado por Stalin para morrer desde 1929. Ao final, foi assassinado a
machadadas no México. Viena de Tomás Masaryk, primeiro presidente da República
Tcheca. Viena de Franz Werfel, que na época era escritor equiparado a Thomas Mann.
Ele, ao ver sua mulher, Alma, já com 53 anos, enfeitiçando o teólogo padre Johannes
Hollensteiner, de 37 anos, promissor futuro cardeal de Viena, disse simplesmente: “É
a mais recente loucura de Alma…” Mas não foi a última o que o levaria a dizer: “É
uma das poucas feiticeiras vivas…” Alma sobreviveu a todos, muito antes de sua
morte, aos 87 anos, seria mordazmente cognominada “a viúva das quatro artes”. Ela
não se casara com o quase futuro cardeal, senão teria ampliado o seu número de artes.
O padre Johannes foi devidamente abadonandonado por Alma, sem batina. Realmente
Viena era a cidade onde a situação poderia ser desesperadora, mas não era grave… Ou,
numa outra versão, em que o comandante de um regimento na frente ocidental enviaria
o antológico telegrama: “A situação é sem esperança, mas não é desesperadora”. Eles
sabiam viver até o fim e não se desesperavam e quando havia a ameaça de um
desespero, ora, não era grave. Ficavam neste passo de dança volúvel, envolvente, em
que a autenticidade também não era uma flor que vicejasse e a ilusão, esta sim, era
uma fonte de alegria e de vida.
Então surge um homem que não frequentava os cafés e noitadas vienenses,
que convivia em um pequeno círculo médico, que quase descobrira o efeito
anestésico local da cocaína e que afirmava odiar Viena e amar a verdade – o nosso
Sigmund Freud.
Não podemos deixar de comparar, guardando as devidas proporções, Atenas e
Viena. O velho Freud ficaria bem no lugar de Sócrates. Imaginamos que o criador da
Psicanálise pode ser colocado junto de Sócrates, o indiscutível criador da Filosofia
Ocidental. Sócrates pariu a maiêutica e o Conhece-te a ti mesmo, enquanto Freud deu
nascimento à Psicanálise e à associação livre de idéias como meio de acesso ao
Inconsciente. Ambos utilizando a Palavra e o Diálogo com o Outro como meio de
parturição das idéias desconhecidas e nascentes numa tentativa de nos conhecermos.
Houve momentos em que Freud se apropriou da peripatética platônica e,
andando pelas ruas de Viena, analisou os pioneiros como Eitington e outros. É célebre
a análise peripatética que Freud realizou com Mahler. Não foi em Viena, mas sim em
Leyde, na Holanda, quando Freud lá estava de férias. Foram 4 horas. Lá pelas tantas
Freud estranhou como Mahler, nas circunstâncias de sua relação com a mãe, que se
chamava Maria, viera a se casar com uma mulher de nome tão diferente, Alma. Para
espanto dos dois, Mahler respondeu: “Mas ela se chama Maria Alma!” Nesta hora a
gente tem de dizer em relação a Freud: “Bingo! Fecha o pano!”
Em Viena os intelectuais se conheciam, diferentemente das outras capitais
européias, onde se desconheciam. Havia muitos motivos para isto. Entre eles, os cafés.
A meu ver isto se devia também a um homem terrível, odiado por todos, uma víbora:
Karl Kraus, o criador, redator, repórter do jornal Die Fackel, em português,A Tocha.
Ele não perdoava ninguém: Freud, a Psicanálise, os escritores que enalteciam o
deflagar da guerra em 1914, os artistas, os ricos, os pobres, a burguesia, a realeza.
Todos estavam expostos à navalha de sua pena inapelável. Todos tinham que lê-lo até
para saber que podre de sua vida ia chegar aos narizes de todos de Viena. Isto porque
tudo o que chegava a seus ouvidos ele publicava. Parece que os vienenses pensavam
assim: “Se um dia alguém contar aquele meu problema eu sei que o Karl Kraus não vai
me perdoar. Vai botar no jornal. Vamos gozar a desgraça alheia enquanto não chega
minha hora. Vou contar para o Karl aquela história verdadeira da mulher do meu
amigo”.
Mas a oposição à Psicanálise era grande. Gay 1989 (p. 410) nos lembra:
“Entretanto o que mais impressionou ao futuro filósofo Karl Popper foi a
explícita asserção de Einstein, de que consideraria insustentável a sua teoria da
relatividade caso ela viesse a falhar em certas provas. Einstein escreveu, por exemplo,
que, se os desvios das linhas espectrais para o vermelho devido ao potencial
gravitacional não ocorrer, a teoria geral da relatividade será insustentável”. E Popper
complementou: “Ali estava uma atitude completamente diversa da atitude dogmática
de Marx, Freud, Adler e mesmo de alguns seus sucessores… Cheguei assim, em fins de
1919, à conclusão de que a atitude científica era uma atitude crítica, em que não
importavam as verificações, mas as provas cruciais – provas que poderiam refutar a
teoria em exame, conquanto jamais pudessem estabelecê-la ou prová-la” (p.44). E
Popper lançou-se no mundo!
Em 1921, o Eclipse do Sol, daria à cidade cearense de Sobral um lugar especial
não apenas na História da Astronomia e da Física, mas também na Epistemologia da
Ciência transformando-se em um esteio para a mente extraordinária de Einstein e o
futuro Sir Karl Popper. Neste eclipse verificou-se que os raios de uma estrela foram
desviados pela força gravitacional do Sol, algo que seria impossível de acontecer de
acordo com os conceitos newtonianos clássicos.
Podemos refutar Popper dizendo que Freud modificou sua teoria diversas vezes
em aspectos essenciais da mesma. A Psicanálise desenvolveu-se através de caminhos
que diferentes teóricos analistas têm percorrido com maior ou menor sucesso. Se tal
ocorre é porque nem tudo é explicado. Sabemos que uma imensidade de problemas
humanos não está explicada nem compreendida, mas, com a Psicanálise, alguma
ampliação do conhecimnto foi conseguida e continua sendo expandida.
“Popper, por exemplo – tinha apenas dezessete anos –, achava que havia
refutado definitivamente a Psicanálise e o marxismo: todos esses sistemas explicavam
demais. As formulações de Freud, Marx (e também de Darwin) eram tão imprecisas
que qulquer acontecimento, qualquer comportamento, qualquer fato que fosse
poderiam apenas confirmá-los. Provando absolutamente tudo, argumentou Popper, eles
não provavam absolutamente nada. E Popper era apenas o mais sofisticado entre
muitos especialistas do momento. Num tal clima de opinião, com tanta coisa em jogo,
o avanço tortuoso da Psicanálise não deve ter surpreendido Freud.” Lembremos que
Popper era admirador de Darwin, mas a teoria da Evolução das espécies também
“explicava tudo”. Sabe-se hoje que os conco bilhões de anos da existência da terra não
explicam a perfeição da textura de um olho, de um rim humano, órgãos extraordinários
dos seres humanos, sem contar o cérebro…
Peirce “enunciou de um modo rudimentar—a tese da assimetria entre a
verificação e a falsificação: seria necessária uma infinidade de experiências para
confirmar uma teoria, mas, bastaria uma única para refutá-la” (p. 141).
A música, a dança e os cafés impregnavam a cidade. Nos cafés havia a riqueza,
o cuidado, a alegria contagiante. Stefan Zweig dizia que a primeira coisa que se lia nos
jornais era a secção de espetáculos. Pobres de nós em que o nosso espetáculo é o
assalto, a inundação, a corrupção, as mortes por acidentes, as bandas e os político
inomináveis. Que espetáculos!
Viena não era apenas a cidade da psicanálise nascente, mas também do novo
urbanismo, da música atonal, das artes plásticas que caminhavam do “déco” ao
expressionismo. Era uma mola propulsora do belo e do moderno.
Os homens mais ricos da cidade eram profundamente ligados ao processo cultural e
de vanguarda. O mecenato era franco e decidido. O Velho Karl Witgenstein, pai do nosso
filósofo, era o mais rico de todos. Ele era mais rico do que os Krupp seriam na Alemanha
de Hitler. Apoiou inteiramente o movimento da Secessão que eclodiu na Viena esfuziante e
sacudiu aquela época e que, quanto mais tempo se passa mais e mais é valorizado. Era uma
luta contra o academicismo ainda imperante.
Klimt, 20 anos mais velho do que Alma, futura Mahler, frequentava o lar dos Moll,
padrasto da futura “Viúva das Quatro Artes”, como ficou conhecida por haver arrasado os
corações dos maiores gênios da época, matando-os de frustração amorosa. Era uma
Marylin Monroe de então, com algumas diferenças. Não se interessava por presidentes,
mas sim por gênios. Aos 17 anos sabia grego, devorava Nietsche, sabia de cor toda a obra
de Wagner, compunha maravilhosos lieds, mas obedeceu à ordem de Mahler de jamais
compor nada. Uma Marylin que aceitou não ser atriz. Que coisa atroz… Klimt foi eleito
presidente, Moll o organizador do movimento que tratava de “romper com o academicismo
vienense dominado ainda por um hábil artífice, Makart, e revolucionar pura e
simplesmente o conjunto das artes plásticas e decorativas”. (p.25). Mobilizaram mais
quarenta artistas plásticos em luta para reformular a Arte e fazer um novo Renascimento.
Alma Mahler, aos 15 anos, estava no centro amoroso de todos. Moll era seu padrasto, e
Klimt, 35 anos, seu primeiro enamorado. Onde Alma ia, Klimt ia atrás, mesmo de cidade
em cidade, até a mãe de Alma ler no diário íntimo da filha, a descrição de um certo beijo.
Solução: Klimt não poderia mais frequentar a casa deles e foi fazer a extraordinária
revolução nas Artes, a Secessão: um sucessão! Embora tristes com o fato de Klimt não
poder mais visitar sua casa, Alma e seu apaixonado amado aceitaram. Moll era apreciado e
valioso por sua capacidade organizativa. Mas, em Veneza, a promessa ao padrasto não
pôde ser cumprida e, a duras penas, Alma manteve apenas a virgindade, aquele “bem tão
precário…”.(p.26). Moll, o organizador do movimento da Secessão, o padrasto, se impôs e
acabou com a farra, por pouco tempo…Klimt precisava do senso de organização de Moll e,
assim… obedeceu. Klimt passou a satisfazer-se com uma boneca que era imitação perfeita
de Alma. Só lhe faltava alma à Alma. Mas, Alma, teria alma?
Os três afrescos que saíram da mente de Klimt para ornar os salões da
Universidade, cujos temas eram Medicina, Filosofia e Jurisprudência chocaram a todos.
Eram mulheres nuas, esguias, expressando a essência da feminilidade, de belezas nada
esculturais, mas criaram um tumulto tal que Klimt retomou-as e não recebeu o dinheiro
que o Estado lhe devia. O Ministro da Educação impôs: ele, Klimt, tinha que receber o
dinheiro. E, todo resolvido, pois afinal o Ministro portelianamente era Sua Excelência, o
Ministro, e não apenas estava Ministro e não seria um reles artista plástico quem iria
desobedecer às ordens ministeriais. Mandou um caminhão buscar os quadros. Klimt pegou
uma espingarda, carregou-a e quando os motoristas chegaram, ele os mandou desaparecer
de sua frente com caminhão e tudo e que transmitissem suas palavras ao ministro e que não
voltassem jamais. Nunca mais voltaram. O Renascimento de Viena iria terminar em Morte
se voltassem! Tempos depois, estes afrescos foram parar em um palácio particular,
incendiado na época dos nazistas. Mais um crime na conta do pintor de paredes chamado
Adolph!
Antes e depois disto, em seu atelier, Klimt vivia cercado de mulheres nuas as quais
ia desenhando de acordo com a perspectiva visual e emocional do momento.
O pai de Wittgenstein sabia ser tirano. Dos seus quatro filhos homens, todos de
grande sensibilidade artística, virtuoses do piano, fato que os levava a varar as madrugadas
mergulhados no prazer da música. Três deles eram homossexuais e se suicidaram,
enquanto que o outro Wittgenstein, seria o gênio que até hoje irradia e ilumina o saber
humano. O sofrido Ludwig Wittgenstein viveu acalentando a ideia e quase o ato de
suicidar-se, tentava agarrar-se nos amores homossexuais. Com a morte do pai herdou uma
considerável fortuna. Passou a reparti-la a vagabundos desconhecidos e poetas. Rilke teria
recebido alguma quantia de Wittgenstein até que a irmã do filósofo tomasse providências.
Na guerra de 1914, poderia ser oficial, mas resolveu ser soldado. Destacou-se em tudo o
que se intrometeu. Recebeu medalhas. Onde ia criava coisas extraordinárias. Sócrates
também tornou-se herói nas batalhas de Atenas, desprezava os bens materiais e criou a
Filosofia sem nada escrever. Wittgenstein tinha o seu Tractatus na mochila de enfermeiro
da Primeira Guerra Mundial e a lógica e as discussões com Bertrand Russel na mente.
Desejava acabar com a Filosofia, reduzir tudo à Lógica e aniquilar a metafísica, a ética, a
estética. Depois de muitos anos iria travar uma batalha com Karl Popper, o vienense sem
atrativos especiais, que não era um Deus como Wittgenstein o era para seus admiradores.
Mas, quando Popper começava a falar, a argumentação impressionava. Popper vinha
criticando os escritos de Wittgenstein há anos e anos. Foi em Londres, com a presença de
Russell, pela primeira vez juntos, presentes os maiores filósofos de então que Popper iria
defender a existência de problemas filosóficos reais e assim defender a existência da
Filosofia. Citou alguns exemplos de problemas filosóficos, Wittgenstein rejeitou todos eles
de modo definitivo, ao mesmo tempo em que, na acanhada sala em que se daria a esperada
reunião e discussão entre o querido Ludwig contra o mestre Popper, Wittgenstein
“brincava nervosamente com o atiçador da lareira” da sala, cheia de importantes filósofos e
alunos que iriam ver o esperado debate. Ao abordarem a ética Wittgenstein irritado reptou
Popper a fornecer um exemplo de uma regra moral. Popper disse-lhe: “Não ameaçar
palestrantes com atiçadores”. Para que Popper foi dizer isto, a seu ver brincando? Ludwig
lançou o atiçador no chão, saiu de imediato da sala, batendo a porta. Foram doze ou quinze
minutos apenas da discussão filosófica que deveria ter sido… Milhares de páginas e
também um livro extraordinário relatam este episódio de Guerra Filosófica! Abandonemos
estes dois gênios:
“Nos anos 1880, esses grupos [camponeses, artesãos e operários urbanos, e os
povos eslavos] formaram partidos de massa para enfrentar a hegemonia liberal [composta
de]: social-cristãos e pangermânicos anti-semitas, socialistas e nacionalistas eslavos. Seu
êxito foi rápido. Em 1895, o bastiào do liberalismo, a própria cidade de Viena foi
engolfado por um vagalhão social-cristão. O Imperador Francisco José, com o apoio da
hierarquia católica, recusou-se a ratificar a eleição de Karl Lueger, o prefeito católico
anti-semita. Sigmund Freud, o liberal, fumou um charuto para comemorar o gesto do
Imperador, salvador autocrático dos judeus. Dois anos depois, não se pôde mais deter o
vagalhão. O Imperador, curvando-se à vontade do eleitorado, ratificou Lueger como
prefeito de Viena. (Schorske, 27).
Daí em diante Viena e Áustria se tornaram rainhas do clericalismo e antisemitismo.
É bem verdade que, muitos anos depois, Stefan Zweig quando exprimia sua
“consternação pelas notícias a respeito das perseguições aos judeus… [ouviu]: Vocês
judeus alemães e austríacos, sofrem mais porque há séculos não conhecem perseguições.
Nós que viemos da Rússia, Polônia, Romênia, sabemos o que sãopogrons, massacres,
terror” (Dines, p.474). É um campionato masoquista: saber quem sofre mais. Triste
condição humana, o que nos faz lembrar André Malraux, em que seres humanos vivos
eram lançados nas fornalhas a fim de alimentar as locomotivas, como se fossem carvão.
Muitos e muitos anos após o prêmio Nobel de Medicina Erik Kandel, vienense, casado
em primeiras núpcias com Anna Kris, filha de grandes amigos de Freud e analista das
primeiras levas, Ernest e Marianne Kris, lançara-se no mundo da Psicanálise e da
Ciência. Ficou com o estudo da memória e conquistou o Nobel, em 1999. Escreveu Em
busca da memória, uma obra extraordinária, onde trechos autobiográficos e históricos se
entrelaçam com suas pesquisas:
Hitler tinha presumido que os austríacos iriam se opor à anexação de
seu país pela Alemanha e fossem peleitear que a Àustria se tornasse um
protetorado alemão relativamente independente. Mas a maneira extraordinária
como foi recebido, mesmo por aqueles que, 48 horas antes, se opunham a ele,
convemceu-o que a Àustria aceitaria prontamente – e, na verdade, receberia
de bom grado – a anexação. Parecia que todo mundo, dos comerciantes
modestos aos mais elevados membros da comunidadde acadêmica, agora
acolhia Hitler de braços abertos. O cardeal Theodor Innitzer, onfluente
arcebispo de Viena, outrora defensor solidário da comunidade judaica,
ordenou que todas as igrejas católicas de Viena hasteassem a bandeira nazista
e fizessem soar seus sinos em homenagem à chegada de Hitler. Ao
cumprimentá-lo pessoalmente, o cardeal empenhou sua própria lealdade e
também a de todos os austríacos católicos, a maioria da população. Prometeu
que os católicos da Àustria se tornariam ‘os verdadeiros filhos do grande
Reich, para cujos braços eles haviam retornado neste dia importantíssimo’. O
único pedido do arcebispo foi o de que as liberdades da igreja fossem
respeitadas e seu papel na educação dos jovens garantido. Naquela noite e
durante os dias que se seguiram, o caos se instalou. Inspirados pelos
austríacos nazistas e gritando “Fora com os judeus! Heil Hitler! Destruam os
judeus!”, multidões de vienenses, adultos e jovens irromperam num frenesi
nacionalista, espancasndo judeus e destruindo suas propriedades. Judeus
foram humilhados e obrigados a ficar de joelhos para esfregar as calçadas,
eliminando todos os vestígios dos grafites políticos contrários à anexação.
Meu pai foi forçado a usar uma escova de dentes para limpar Viena do último
sopro da independência austríaca – a palavra ‘sim ‘, rabiscadas pelos patriotas
vienenses exortando os cidadãos a votar pela liberdade da Àustria e a se opor
à anexação. Outros foram obrigados a carregar baldes de tinta e a marcar os
estabelecimentos comerciais que pertenciam a judeus com a estrela de David
ou com a palavra Jude. Os comentaristas estrangeiros, desde muito habituados
às táticas nazistas na Alemanha ficaram mudos de espanto com a brutalidade
dos austríacos. (…)
No dia seguinte à chegada de Hitler, todos os meus colegas de classe—
exceto um – uma menina, a única outra criança judia que estudava na minha
classe –, me evitaram. No parque onde costumava brincar fui insultado,
humilhado e provocado. (…) Esssa hostilidade dirigida aos judeus, da qual o
tratamento que recebi não passa de um tratamento ameno, culminou com os
horrores da Noite dos Cristais (Kandel, pp 28-32).
Nesta célebre Noite dos Cristais os nazistas destruiram as vitrines e os pertences
das casas dos judeus, expulsaram-nos de seus lares, agrediram e mataram livremente.
Faltando quatro anos para terminar o século, Freud perdeu o pai. Estava com 40
anos. Começou sua autoanálise, que ele vai considerar impossível de ser realizada, pois
que, se isto fosse possível, não existiria a doença “neurótica” e, consequentemente,
também não existiriam psicanalistas. Em 1900 publicou aInterpretação dos sonhos.
Wilhelm Steckel sugeriu, em 1901, reunirem-se com alguns amigos para discutirem os
temas calientes de suas preocupações sobre a emocionalidade. Eram cinco médicos. Os
dois já citados, Max Kahane, Reitler e Victor Adler. Eles não sabiam, mas estavam
criando o que poucos anos depois iriam denominar a Sociedade Psicológica das Quartasfeiras.
Também não sabiam que, deste gérmen, iria nascer a formidável IPA, com seus
mais de 12.000 membros associados e, cerca de 4.500 candidatos a se tornartem
analistas. Paul Federn e o pai do pequeno Hans, Max Graf, ficariam na história da
Psicanálise desde estes primórdios. Steckel também ficou. Seus livros sobre “Impotência
masculina”, Escuta Zé-ninguém ainda são encontrados, embora muito criticados pela
grande maioria dos psicanalistas, há muitos e muitos anos. Ele é mais conhecido porque
sempre, nas reuniões na casa de Freud, acrescentava um caso dele, “exatamente” com
aquele mesmo problema que estava sendo discutido: era o “paciente das quartas-feiras”
de Stekel, como jocosamente os colegas comentavam. Em 1906, quando Freud estava
com 50 anos, eram 17 membros. Em 1908, aos poucos, foram chegando Ferenczi, o
grande amigo, Karl Abraham, de Berlim, Jones, Paul Federn e Otto Rank, Eitington,
Brill, Binswanger e, entre todos eles, o futuro Príncipe Herdeiro, Gustav Jung.
Na primeira reunião dos discípulos de Freud, em 1908, em Salsburgo, estavam
presentes 42 participantes vindos de seis países: Estados Unidos, Àustria, Grã-Bretanha,
Alemanha, Hungria e Suiça. Freud apresentou, sem consultar uma nota sequer, durante 4
horas, o caso do “Homem dos ratos”. Dois anos depois, em 1910, em Nuremberg, eles
fundam a IPA elegendo Jung como seu presidente. Freud vivia sendo acusado, pelo meio
psiquiátrico de então, de haver criado uma pseudo-ciencia de aplicação exclusivamente
judia. O preconceito anti-judeu graçava em Viena. Hitler passava da adolescência. O
irmão de Dora, o célebre caso clínico de Freud, Otto Bauer, que se tornou um teórico do
Marxismo, tinha sido ministro das Relações Exteriores da Áustria. Ele envidou todos os
esforços para que Hitler invadisse e anexasse a Áustria, seu próprio país. Podemos dizer
que Hitler, nascido na Áustria invadiu e anexou seu país natal para a Alemanha enquanto
que o irmão de Dora e o povo austríaco deixou-se invadir. O povo votou a favor da
anexação. Otto Bauer pensava que a união do proletariado da Àustria com o operariado
da Alemanha, levaria a que a massa dos trabalhadores dos dois países unidos esmagasse
Hitler. Os trabalhadores unidos foram vencidos. Neste cadinho explosivo iria estourar a
Primeira Guerra Mundial, em 1914.
Anos antes da Primeira Grande Guerra Carl Gustav Jung, um teutônico típico,
afinal um não judeu talentoso, era a esperança de resgatar a Psicanálise desta visão
estreita, de uma suposta ciência judia, recuperando assim a universalidade do nosso
saber. Mas os adeptos vienenses que haviam sofrido a execração pública, junto com
Freud, desde o princípio, queriam também um lugar ao sol no estrelato psicanalítico. Por
este motivo, em virtude da não aceitação, por parte de Jung, da importância radical da
sexualidade, dentro da concepção de Freud, o conflito entre os dois foi num crescendo de
tal forma que a calorosa aceitação mútua deu lugar a uma separação dolorosa. Também
em 1914, Freud iria publicar a História do Movimento Psicanalítico, em que narra a luta
contra Adler e Jung. Era a primeira guerra mundial da Psicanálise. Nós estamos a 100
anos de distância e só temos a declarar nossa admiração por estes bravos que povoaram o
mundo com suas idéias, seus conflitos, suas inteligências e seus saberes. Hoje é dia de
celebração da aniversariante, a IPA. Todos eles, gregos e troianos, foram fundamentais
na criação e na Criatividade da aniversariante. Talvez uma formulação típica cearense
fosse dizer que ela, a aniversariante, carece de um Homero.
Em homenagem ao sexo frágil vamos lembrar-nos da primeira mulher na
Sociedade Psicológica das Quartas-feiras, reunião dos colegas que tiraram Freud do
longo e não tão esplêndido isolamento: Margarethe Hilferding, uma marxista, que tomou
o partido de Adler na disputa deste com Freud. Foi exterminada, como outros seis
milhões de judeus em campos de concentração. Não podíamos esquecer-nos de Lou
Andrea Salomé, mulher e psicanalista apaixonante e apaixonada, um nome que envolve
Nietzsche, Rilke, Paul Rée, Carl Andreas e outros mais. Arrebatava as inteligências com
quem se envolvia pelo poder de sua mente extraordinária, pela beleza marcante e
personalidade ímpar.
Depois de Jung, em sucessivas etapas foram sendo eleitos presidentes: Abraham,
Ferenczi, Jones e, em 1925, Eitington e, com ele a IPA passou a dirigir e centralizar a
formação psicanalitica, baseada no famoso tripé: análise pessoal, supervisão e curso
teórico. Como era de se esperar houve reações a este modelo, mormente por estabelecer
análises prolongadas, com sessões com tempo determinado de 45 a 50 minutos, quatro a
cinco vezes por semana, tendo como Regra Fundamental a associação livre de idéias.
Os psicanalistas europeus que fugiam do nazismo entraram, enquanto foi possível
na Associação Psicanalítica Americana. Constituiam um grupo muito numeroso, de tal
maneira que puderam se impor à IPA e, embora ficassem na associaçào que Freud
fundara, tinham o direito de só permitir que médicos fossem analistas e dirigiam
integralmente a formação dos seus candidatos. A IPA e Freud eram francamente a favor
de que a Psicanálise não ficasse restrita aos médicos. Em 1985, os psicólogos americanos
conseguiram impor-se ameaçando com processos judiciais à IPA e à Associação
Psicanalítica Americana, de tal sorte, que a mesa foi virada e a psicologia enriqueceu a
Psicanálise, mergulhando por inteiro na IPA. As Sociedades brasileiras já haviam aberto
suas portas, bem antes, ao toque da Psicologia.
Em 1927, o Brasil, através de Durval Marcondes, de São Paulo, solicita inscrição
na IPA, fundando a Sociedade Brasileira de Psicanálise. Porto Carrero, do Rio, escrev a
Freud, filia-se, mas as dificuldades foram muitas e só em 1936 Adelheid Koch, a
primeira analista-didata a pisar no solo brasileiro realiza os sonhos de Durval Marcondes.
Este feito estimulou o Rio a procurar pelo mundo, através de Ernest Jones, um analista
didata. Até Paula Heiman, Marie Langer e outras foram cantadas antes da vinda de Mark
Burke e Kemper. Brasileiros vão se formar analistas na Argentina, dançando Freud ao
som do bandoneón. Em 1951 a Sociedade de São Paulo é aceita pela IPA. Em 1955 a
IPA aceita a Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro e, em 1959, foi criada a Sociedade
Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Estas duas com nomes tão parecidos a fim de
facilitar, receberam cognomes: a primeira tornou-se Rio I e a segunda, muito
naturalmente, Rio II. Estas duas sociedades cariocas patrocinaram a Sociedade
Psicanalítica do Recife, que começou em 1975, como nós de Fortaleza, um simples
Núcleo Psicanalítico, com José Lins e Lenice Sales. A Lenice é a grande dama da
Psicanálise nordestina. Vamos sintetizar os feitos de colegas que mereceriam nosso mais
entusiástico aplauso: Sônia Lobo monta uma ponte-aérea Fortaleza-Recife ida e volta
com Zé Lins. É a primeira psicanalista da IPA a pisar solo cearense e a grande dama da
Psicanálise em nosssa terra. Maria José de Andrade Souza procurou análise em Sào
Paulo, onde se formou e, felizmente, voltou; Valton vai em demanda de mais luzes a
Porto-Alegre; Galba vai de Fusca ou de Gordini, aquele que desmanchava como Leite
Glória, com a família, durante anos para Buenos Aires ida e volta; Barbosa, Socorro e
Rosane preferem a terra da garoa, em seus diferentes matizes, muito antes do dilúvio
recente e das guerras de gangues recentes. Roberto, após longa passagem no Rio, ainda
encontra fôlego para ir a Buenos Aires.
Há seis anos houve o primeiro Congresso da IPA, no Brasil, que foi um grande
sucesso. Há quatro anos um brasileiro, Cláudio Eizirik foi eleito Presidente da IPA.
Testemunhei e participei, em Chicago, em 30 de Julho de 2009, no ano passado, a
entrada do GEPFOR na IPA como Grupo de Estudos Psicanalíticos de Fortaleza. É hora
de cantar o nosso Hino:–Fortaleeeeeeza!!!! – com fervor e valorizarmos o esforço de
tantos colegas, os citados e os não citados, colegas nossos que nos divãs nos formam
melhores analistas. Agradecemos à IPA que conseguiu manter este núcleo central de uma
Psicanálise em alto estilo, de uma formação constante, contínua e continuada. O que
seríamos nós sem ela? Talvez fôssemos um bando, sem nos conhecermos. Hoje somos
um grupo, um berço de criatividade sob o amparo, o calor, o frescor dos róseos dedos da
Aurora do conhecimento do Inconsciente humano, vislumbrado pelo genial Sigmund
Freud.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Dines A. (2004) Morte no Paraíso A tragédia de Stefan Sweig. Riode janeiro:
Rocco.
Freud S (1914) A história do movimento psicanalítico
Gay P (1989) Freud, uma vida para o nosso tempo. S. Paulo: Cia. das Letras.
Giroud F (1989) Alma Mahler ou a Arte de ser Amada. Rio: Rocco
Kandel E. (2009) Em busca da memória. São Paulo: Cia. das Letras.
Schorske C.(1988) Viena Fin-de Siècle. São Paulo: Editora Schwarcz
Popper K (1987) Autobiografia Intelectual. Rio: Editora Cultrix
______ (1989) Karl Popper et la Science d’aujoud’hui. Paris: Aubier, Coloque
de Cerisy, p. 141.

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